Certa feita em uma escola de porte médio, um professor substituto
foi chamado às pressas, pois um dos docentes adoecera. Ao entrar na sala de
aula e apresentar-se, logo indagou a garotinha que sentava-se a primeira
cadeira de uma das filas.
- Para você, o que é a luz? – Meio sem jeito, a garota respondeu.
- Desculpe professor, nunca vi a luz. Desde que nasci eu não
enxergo... Mas, penso que a luz deva ser como um abraço de Deus. Carinhoso,
quentinho, aconchegante e que enche de vida a tudo que o acolha.
Assim
como a garotinha que nunca viu a luz, a humanidade ainda não consegue penetrar a
natureza íntima do Senhor da Vida, embora já seja capaz de perceber sua ação. É
um sentido que ainda aguarda a completa depuração do ser imortal que somos para
poder eclodir. Até a conquista desta condição individual de consequências coletivas,
pode o homem identificar alguns dos atributos, características que de modo
algum deva faltar a Deus. E nos valendo das ciências históricas, que através de
fatos e artefatos que contam a longa e extraordinária viagem do homos em busca do Self e de sua razão de
existir, identificamos que a percepção de Deus e de seus atributos, mudou com o
progresso alcançado pelo homem.
Assim aduz Joana
de Ângelis através da psicografia de Divaldo Pereira Franco no livro Estudos
Espíritas:
Desde tempos imemoriais, a
interpretação da divindade tem recebido os mais preciosos investimentos
intelectivos que se possam imaginar. Originariamente confundido com a sua obra,
[Deus] mereceu ser temido pelos povos primitivos que legaram às culturas
posteriores a sedimentação supersticiosa das crendices em que fundamentavam o
seu tributo de adoração, transitando mais tarde para a humanização da divindade
mesma, eivada pelos sentimentos e paixões transferidos da própria mesquinhez do
homem.
Para os povos mais primitivos, deus - com d minúsculo, representa
as forças da natureza, e dessa forma naturalmente para eles haviam muitos
"deuses". Para os povos indígenas brasileiros, há Amanaci (a deusa da
chuva), Tupã (o deus bom, senhor do raio, do relampado e do trovão) e Iaci
(Deus da lua), dentre tantas outras divindades. Cada um com características
próprias, responsável por este ou aquele departamento da natureza.
Posteriormente em civilizações mais avançadas, também comportamentos,
características e paixões humanas passaram a ser representadas por deuses. Na
Grécia antiga Afrodite era cultuada como a deusa do amor, da beleza e do sexo;
e Dionísio o deus do vinho das farras e da loucura. Na Roma dos Césares, Cupido
era o deus da paixão, enquanto que Belona era cultuada como a deusa da Guerra.
Percebe-se facilmente assim, que tanto os povos primitivos quanto civilizações
um pouco mais evoluídas, adoravam vários deuses, eram politeístas.
E para Allan Kardec na obra “A Gênese: os milagres e as predições
segundo o espiritismo”:
Foi à ignorância
do infinito das perfeições de Deus que engendrou o politeísmo, culto de todos
os povos primitivos; eles atribuíram divindade a todo o poder que lhe pareceu
acima da humanidade; mais tarde, a razão levou-os a confundirem essas diversas
potencias em uma única.
E assim se deu. A humanidade começou de forma mais lúcida a
perceber a divindade única que cria e rege o universo, a partir do milenar povo
hebreu. Nas palavras de Emannuel todas as raças que compõe a humanidade, possuem
uma dívida de gratidão para com esse povo. Foram, pois os primeiros a
reconhecer e aceitar a existência única de um Ser Supremo, não obstante eivado com
todas as qualidades humanas predominantes a época de primarismos: violento,
vingativo, julgador, intolerante, castigador, parcial...
Nunca é demais ressaltar que é deste povo que surgiram os Judeus,
povo no qual nasceu Jesus, o Portador da Boa Nova que apresenta aos homens um
Deus imparcial que ama a todas as suas criaturas indistintamente e que as cria
com as mesmas possibilidades, capacidades e oportunidades para progredir. Um
Deus que nunca para de agir e que a todos convida a agirem promovendo o bem, edificando
o reino dos céus por si e em si mesmos, contribuindo na construção deste nos
outros com o exemplo. Um Deus que sempre faz o que é melhor, mesmo que no
momento em que vivamos situações de alegria e felicidade, ou de desdita e
angustia, não compreendamos suas formas de educar o espírito imortal que somos.
Um Deus que perdoa indistintamente e sempre, quando para isso nos colocamos na
condição de recebê-lo, em perdoarmos os outros quando estes nos ofendem. Um
Deus de amor, nas palavras de João o Evangelista.
E a humanidade, conquanto nos últimos milênios tenha galgado
largos passos no campo intelectual, e alguns tímidos no ético e no espiritual,
ainda não é capaz de penetrar na natureza íntima do Senhor da Vida, muito
embora o esforço do Rabi Galileu em vivenciar o caminho, exemplificando-o. É que
para tal, ainda nos falta um sentido para entendermos a natureza Divina, assim
nos asseveram os espíritos da Codificação. Somos apenas capazes de perceber
alguns atributos que não podem faltar ao Incriado, sem ferir a razão.
E abstração feita de todo e qualquer crédulo religioso:
Deus é a suprema
e soberana inteligência: se se supusesse limitada em um ponto qualquer,
poder-se-ia conceber um ser ainda mais inteligente, capaz de compreender e de
fazer o que outro não faria, e, assim sucessivamente até o infinito.
Deus é
sempiterno: (...) não teve começo e não terá fim. (...) Se lhe supusesse um
começo ou um fim, poder-se-ia conceber um ser tendo existido antes dele, ou
podendo existir depois dele, e assim sucessivamente até o infinito.
Deus é imutável: Se
estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o universo não teriam nenhuma
estabilidade.
Deus é imaterial:
quer dizer, que a sua natureza difere de tudo o que chamamos de matéria; de
outro modo, não seria imutável, por que estaria sujeito as transformações da
matéria.
Deus é
todo-poderoso: se não tivesse o supremo poder, poder-se-ia conceber um ser mais
poderoso (...).
Deus é
soberanamente justo e bom: a sabedoria providencial das leis divinas se revela
nas pequenas coisas como nas maiores, e essa sabedoria não permite duvidar nem
da sua justiça, nem da sua bondade.
Deus é
infinitamente perfeito: é impossível conceber Deus sem o infinito das
perfeições, sem o que não seria Deus, por que se poderia sempre conceber um ser
possuindo o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa superá-lo, é preciso que
seja infinito em tudo.
Deus é único: a
unidade de Deus é a consequência do infinito das perfeições. Um outro Deus não
poderia senão com a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas; por
que se houvesse, entre eles, a mais leve diferença, um seria inferior ao outro,
subordinado ao seu poder, e não seria Deus.
Reflitamos sobre estas características que nossa apequenada razão
nos permite entrever, e analisemos se elas estão de alguma sorte em desacordo com
o Deus de amor anunciado por Jesus. Se ainda não conseguimos penetrar na
natureza íntima de Deus, isso não nos tira a responsabilidade de por uma ação
consciente, refletir, pensar, buscar compreender aquilo que não Lhe deve
faltar, para de alguma forma fazer ideia mais justa de sua existência e de sua
ação.
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
1. KARDEC, Allan,
1804 – 1869; tradução de Salvador Gentile. A Gênese: os milagres e as predições
segundo o espiritismo – 38ªed. | Araras – SP, Instituto de Difusão Espírita,
2004.
2. ÂNGELIS,
Joana, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Estudos espíritas – 9ed. | Rio
de Janeiro – RJ, Federação Espírita Brasileira, 2011.
3. EMMANUEL,
psicografado por Francisco Cândido Xavier. A caminho da luz: história da
civilização à luz do espiritismo – 30ed. | Rio de Janeiro – RJ, Federação
Espírita Brasileira, 2003.
4. GOULART, Michael. 12 deuses do olimpo na mitologia grega. <Disponível
em: http://www.historiadigital.org/curiosidades/12-deuses-do-olimpo-na-mitologia-grega/. Acessado em: 17 de dezembro de 2014.>
5. OLIVEIRA, Edí Carlos Rebouças. A Percepção de Deus. Russas, 12
de janeiro de 2014. <Disponível em: http://discursoespirita.blogspot.com.br/2014/01/percepcao-de-deus.html. Acesso em: 01 de dezembro de
2014.>
6. WIKIPEDIA. Mitologia Romana. <Disponível
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_romana. Acessado no dia
17 de dezembro de 2014.>
7. PRIBERAM. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
<Disponível em: http://www.priberam.pt/DLPO. Acessado em: 17 de dezembro de
2014.>
DADOS TÉCNICOS DO
PROGRAMA
Texto de Edí Carlos R. de Oliveira e Música: ”Doutrina
Espírita” do Grupo AME e “Servos Fieis” de Ricardo Sardinha
Gravado em: Núcleo Espírita Casa da Paz (Rua
Dr. José Martins de Santiago, 1248 | Russas – Ceará – Brasil).
EQUIPE DE
PRODUÇÃO DO PROGRAMA
Autoria e Narração: Edí Carlos R. de Oliveira
Prod. Técnica: Alessandro Lima
Revisão: Mª José Nunes Nepomuceno
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